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8/3 – São João de Deus, Confessor

João Cidade nasceu em Montemor-o-Novo, na província de Évora, de pais tão humildes, que a história não lhes registou o nome. Quando tinha oito anos, ouviu um espanhol gabar a grandeza e beleza das igrejas e palácios da sua terra natal e, curioso, desejou vê-las com os próprios olhos. Quando o estrangeiro regressou à pátria, foi-o seguindo até chegar à cidade de Oropesa, em Castela. Só então se deu conta da sua loucura, de que estava só no mundo e não sabia o caminho de regresso. Desolado, rezou a Nossa Senhora pedindo-lhe a sua protecção.

Passou então pela estrada um lavrador bem instalado na vida, que o aceitou como pastor. O curioso é que Nossa Senhora não ajudou o menino a regressar à pátria e ao lar, mas a encontrar trabalho na terra do exílio. É que João Cidade não deveria ter neste mundo nenhum vínculo que o prendesse, nem mesmo o da família, pois fora chamado a ter os pobres e destituídos como seus irmãos.

João cresceu e tornou-se um robusto rapaz, sempre no humilde ofício de pastor. Aos 22 anos, obedecendo à voz da graça que lhe dizia que tinha nascido para algo grande, resolveu tentar fortuna como soldado. A vida licenciosa dos acampamentos acabou por ter má influência sobre o ingénuo pastor, que, aos poucos, foi deixando as devoções; a sua vontade debilitou-se e ele sucumbiu às tentações.

Quatro anos depois, no desejo de defender a fé contra o islão, João Cidade alistou-se entre os que partiram com o Imperador Carlos V a combater o turco Solimão, que ameaçava invadir Viena. No dia 19 de Setembro de 1525, o mouro sitiou a capital austríaca. Mas foi tal o ardor com que os católicos defenderam a cidade, que Solimão, após ter mandado matar 2000 prisioneiros como represália, abandonou a empresa.

No regresso, João Cidade foi visitar o sepulcro de São Tiago, em Compostela, encaminhando-se depois para Portugal e indo à sua cidade natal à procura dos pais. Mas ninguém sabia deles. Acabou por encontrar um velho tio, que o informou de que sua mãe falecera logo depois do seu desaparecimento, e o pai terminara os seus dias num convento franciscano.

Aflito, João Cidade voltou para a Espanha. Depois de curta permanência num hospital, dedicou-se novamente ao pastoreio. Mas a voz interior não o deixava ficar naquela vida pacífica de pastor. Decidiu então ir para a África, para lutar contra os mouros pela fé.

Indo para Granada, certo dia, ouvindo um sermão que São João de Ávila pregava numa igreja da cidade sobre São Sebastião, ficou tão tocado, que irrompeu em soluços, gritando: “Misericórdia! Misericórdia!” E batia no peito, arrancava os cabelos e a barba, de tal maneira que algumas pessoas, julgando-o louco, o levaram para o manicómio da cidade. São João de Ávila foi em seu socorro e, com intuição profética, convenceu-o a dedicar-se ao serviço do próximo. João Cidade encontrará finalmente aí a sua vocação.

No mês de Novembro de 1537, alugou uma casa em Granada, com esmolas comprou leitos, e saiu à rua em busca de pobres e doentes. Os que não podiam andar, trazia-os nos ombros. Nascia assim o pequeno hospital que seria o berço da Ordem dos Irmãos Hospitalares de São João de Deus

Entretanto, se cuidava dos corpos, era para fazer bem às almas. “Há quanto tempo não te confessas?”, perguntava aos seus pobres. E mostrava-lhes que muitas vezes os males do corpo são decorrência dos males da alma. Lavava os enfermos, curava-lhes as feridas, consolava-os, alimentava-os. E diariamente, depois do entardecer, saía com um cesto de vime às costas e dois caldeirões pendurados nos ombros para pedir esmolas para os seus doentes. “Irmãos, fazei bem a vós mesmos!”, gritava pelas ruas, mostrando que quem dá aos pobres empresta a Deus.

Certo dia em que São João de Deus rezava na igreja Nossa Senhora do Sacrário diante de um crucifixo que tinha a seu lado Nossa Senhora das Dores e São João Evangelista, estes desceram do altar e puseram na cabeça do santo uma coroa de espinhos. Disse-lhe a Virgem: “João, pelos espinhos quer meu Filho que alcances grandes merecimentos.

São João de Deus chegou aos 56 anos gasto pelas penitências e pelos trabalhos, e teve ele próprio de guardar o leito no seu hospital. Mas, ouvindo dizer que o rio que passa por Granada trazia no seu leito muita madeira, levantou-se para ir recolhê-la para os seus pobres. Estava nessa faina quando viu um dos ajudantes do hospital ser levado pelas águas; mergulhou para tentar salvar o pobre, mas em vão, pois não conseguiu apanhá-lo.

Tomado por alta febre, foi levado para o hospital. Dona Ana Osório, grande dama local, vendo-o tão falto de assistência e de conforto, obteve do arcebispo uma ordem para que ele fosse levado para sua casa onde, apesar do esmerado tratamento que recebeu, faleceu no dia 8 de Março de 1550.


Foto: Comunicacion.curia [CC BY-SA 3.0] – Wikimedia Commons

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