
Neste dia, diz o Martirológio Romano: “Em Cartago, o natalício [para o Céu] das santas mártires Perpétua e Felicidade. Como narra Santo Agostinho, Felicidade estava para dar a luz e, segundo as leis, deveria esperar até que isso ocorresse. Gemeu de dor na ocasião do parto, mas exultou de alegria quando foi lançada às feras. Com elas, padeceram Sátiro, Saturnino, Revocato e Secundo. Este último sucumbiu no cárcere. Todos os demais foram torturados por vários animais ferozes, acabando a golpes de espada, sob o Imperador Severo.”
Segundo a tradição, Santa Perpétua era uma dama nobre, ainda nova (teria 22 anos), mãe de uma criança de peito. Santa Felicidade era escrava, e esperava o seu primeiro filho. São Revocato também era escravo, e tanto ele como os outros mártires mencionados no Martirológio eram ainda catecúmenos.
Afortunadamente, Perpétua escreveu um diário da prisão, onde relata todo o sofrimento de que foram vítimas, e que é um dos relatos mais pungentes da gloriosa luta dos mártires cristãos da Igreja primitiva. Também providencialmente, pouco depois do martírio desses heróis de Jesus Cristo, um zeloso cristão acrescentou ao escrito de Perpétua um relato das suas execuções. Este conjunto chegou a nós através de uma transcrição de Séptimo Severo (193-211). Explica ele que todos os vassalos do Imperador foram proibidos, sob a ameaça de penas severas, de se tornarem cristãos. Foi em consequência desse decreto que Santa Perpétua, Santa Felicidade e os companheiros foram metidos na prisão em Cartago.
O pai de Perpétua era pagão; sua mãe e dois irmãos eram cristãos, sendo um apenas catecúmeno. Um terceiro irmão, Dinócrates, era ainda criança quando morreu pagão.
Santa Perpétua ficou muito impressionada com a escuridão da prisão e a sua atmosfera opressiva, que assustava, a que acrescia a ansiedade com o seu bebé, que fora autorizado a entrar com ela na prisão. Dois diáconos conseguiram, por meio de um suborno, entrar no cárcere, para aliviar um pouco o sofrimento dos prisioneiros. É bem provável que um deles lhes tenha administrado o baptismo.
Na prisão, Perpétua teve uma visão, na qual se viu a si mesma subindo uma escada que dava para verdes pradarias, nas quais pastava um rebanho de ovelhas; compreendeu assim que o seu martírio estava próximo.
Ela teve a dor de se separar do filho e, como escreveu no seu diário, “Deus permitiu que ele não voltasse a pedir o peito, e que ela não fosse mais atormentada com o leite”.
Dois dias antes do martírio, Felicidade deu à luz uma menina, num parto muito doloroso. Um soldado escarnecia dela por causa das dores do parto: “Se te lamentas agora, o que será quando as feras te morderem?” Ao que ela respondeu, cheia de fé: “Hoje sou eu que sofro; nesse dia sofrerá por mim Aquele por quem eu sofro.” A filha foi adoptada por uma mulher cristã.
Saturo, que também escreveu as suas visões, viu-se a si mesmo e a Perpétua serem transportados por quatro anjos em direção ao Leste, a um belíssimo jardim, no qual encontravam outros cristãos do Norte da África que tinham sofrido o martírio na mesma perseguição.
No dia seguinte, teve lugar o julgamento e os seis mártires confessaram resolutamente a sua fé. Apareceu então o pai de Perpétua com o neto no colo, tentando levar a filha à apostasia, mas ela permaneceu firme na sua resolução de dar a vida por Jesus Cristo. Os cristãos foram todos condenados a serem dilacerados por feras selvagens.
Como diz o Martirológio, Secundo, um dos confessores, faleceu na prisão. No dia 7 de Março, os cinco confessores foram levados ao anfiteatro. Primeiro, a pedido da multidão pagã, foram açoitados. Depois, um javali, um urso e um leopardo foram libertados contra os homens, e uma vaca selvagem contra as mulheres. Feridos, os futuros mártires deram uns aos outros o ósculo da paz, e foram degolados.
Os mártires foram sepultados em Cartago. Os nomes de Felicidade e Perpétua entraram para o calendário dos mártires venerados no século iv, em Roma. Mais tarde, foi edificada sobre os seus túmulos uma magnífica basílica.