Foi no pequeno povoado de Montilla, perto de Córdoba, em Espanha, que nasceu Francisco Solano, filho de pais católicos exemplares.
De temperamento pacífico e bondoso, atraía a todos pela sua modéstia e suavidade. Mas era dotado de uma vontade de ferro e de muita determinação. Sabendo que a virtude não se adquire senão com muito esforço, frequentava assiduamente os sacramentos, principalmente os da confissão e da comunhão, e procurava domar os maus impulsos da carne por meio da oração e de rigorosa penitência.
Aos 20 anos, entrou para o noviciado dos Franciscanos da sua cidade, onde aumentou as suas penitências. Como diz um biógrafo seu, “quis realizar o tipo perfeito do franciscano, juntando a doçura de São Francisco à austeridade de São Pedro de Alcântara”. Dormia sobre sarmentos, tendo como travesseiro um pedaço de madeira; durante o Advento e a Quaresma quase não comia, e flagelava-se até à efusão do sangue.
Feita a profissão religiosa, cursou filosofia e teologia e recebeu as sagradas ordens, dedicando-se ao apostolado da palavra. Pouco tempo depois, foi nomeado mestre de noviços de um convento, e depois superior de outro, mas pedia dispensa de todos os cargos para poder dedicar-se inteiramente à pregação. A sua palavra era persuasiva e penetrava profundamente os corações. Em breve passou a ser conhecido como o frade santo.
Movido pela sua humildade, quis fugir da popularidade e ir pregar em terras de infiéis, em busca do martírio. Não obteve licença de ir para a África, mas de evangelizar o Novo Mundo, e partiu para a América do Sul em 1589.
O grupo de Franciscanos do qual fazia parte chegou a Santiago del Estero em Novembro de 1590. Durante 10 anos, haveria de percorrer aquela região, levantando igrejas, formando municípios, catequizando, baptizando, civilizando. Catequizou o Peru, grande parte da Argentina, da Bolívia e do Paraguai. Realizou tudo isso a pé e descalço, por florestas, desertos, rios, pântanos e matagais cheios de insectos. Mas o maior trabalho de Francisco foi fazer com que espanhóis e índios convivessem como bons cristãos. Esse relacionamento era dificultado pela escravidão, que estava nos hábitos da época, pelos costumes bárbaros dos silvícolas, bem como pela cobiça do ouro, que por vezes se sobrepunha aos sentimentos cristãos.
Em 1559, foi nomeado guardião de toda a região de Tucumã, na Argentina, o que o obrigava a viajar quase sem parar e a pregar incessantemente.
A candura e a bondade do humilde franciscano atraíam homens e até animais: os pássaros pousavam-lhe familiarmente nos ombros e na cabeça. Para os índios, era quase um deus, a quem os elementos da natureza obedeciam, e os espanhóis veneravam-no como santo.
A sua última doença durou dois meses, durante os quais manteve tocantes colóquios com o Crucificado, com Maria Santíssima e com os santos. A sua habitual doçura não o abandonou um só momento: aceitava todos os incómodos da febre em lugar das disciplinas, que não podia usar. Quem passasse pela enfermaria ouvi-lo-ia exclamar, jubiloso: “Glória a Deus!”, e outras piedosas jaculatórias.
Na sua última agonia, enquanto os frades cantavam o credo, às palavras “nasceu de Maria Virgem”, rendeu a alma a Deus.
A sua morte, ocorrida a 14 de Julho de 1610, na cidade de Lima, no Peru, foi um acontecimento público: as multidões fizeram fila para passar diante do seu caixão, e os índios acorreram para ver mais uma vez o seu pai bem-amado. Como todos queriam uma relíquia, foi preciso cortar em pedacinhos vários hábitos em que tinha tocado.
O caixão do humilde frade foi conduzido no cortejo fúnebre pelo Arcebispo de Lima, sucessor de São Toríbio, e pelo Vice-Rei.
Os milagres sucederam-se no seu túmulo e por sua intercessão. Só para o processo de beatificação, foram apresentados mais de 100; e para o de canonização, ocorrida em 1726, outros 30.