De São João Francisco de Régis dizem os Bolandistas: “Um desejo imenso de procurar a glória de Deus; coragem a que nenhum obstáculo, nenhum perigo podem causar temor; aplicação infatigável na conversão dos pecadores; doçura inalterável, que o torna mestre dos corações mais rebeldes; inesgotável caridade pelos pobres; paciência à prova de todas as contradições e de todos os maus tratos; firmeza que as ameaças e mesmo a vista da morte não puderam jamais abalar; a humildade mais profunda, a abnegação mais completa, o despojamento mais absoluto, a obediência mais exacta, pureza de anjo, soberano desprezo do mundo, amor insaciável pelos sofrimentos, numa palavra, todas as virtudes pelas quais uma pessoa se santifica a si própria e santifica as outras, tal é o resumo desta admirável vida.”
João Francisco nasceu no início de 1597, numa família abastada, que se distinguiu pela pureza da fé numa época e região em que dominavam os hereges huguenotes (protestantes calvinistas). Alguns anos mais tarde, um dos seus irmãos dará a vida pela causa católica contra esses pérfidos inimigos da religião.
Aluno do colégio dos Jesuítas de Béziers, França, mostrou-se um apóstolo nato. A sua devoção a Nossa Senhora levou-o a ingressar na congregação mariana do colégio, tornando-se apóstolo dos seus colegas, cinco dos quais, para levarem uma vida mais perfeita, se mudaram para a mesma casa que Régis.
Aos 19 anos, querendo dedicar-se de modo mais especial a Deus, entrou no noviciado dos Jesuítas, onde foi exemplo de obediência, humildade e dedicação. Certo dia em que se levantou furtivamente durante a noite para ir rezar à capela da casa, foi visto por um colega que o denunciou ao superior. “Não turbeis as comunicações que esse anjo mantém com Deus”, respondeu-lhe o sacerdote, “pois, ou muito me engano, ou um dia celebrar-se-á na Igreja a festa do vosso companheiro.”
Após a sua ordenação sacerdotal, em 1630, os empestados de Toulouse receberam as primícias do ministério apostólico do neo-sacerdote. A sua linguagem era simples e popular, mas o fogo da caridade, do qual estava inflamado, dava aos seus discursos um poder tal, que toda a cidade ia escutá-lo e ninguém podia ouvi-lo sem derramar lágrimas.
Com o bordão de peregrino e envolvido num pobre casaco, percorria montes e campos, no Inverno sobre a neve, e no Verão sob os raios abrasadores do Sol. Onde havia uma casa para visitar, uma miséria para socorrer, ou um coração para consolar e abrir para Deus, aí chegava sempre o missionário, por caminhos inverosímeis.
Em 1633, o Bispo de Viviers pediu ao Superior dos Jesuítas um missionário para o acompanhar na sua visita pastoral à diocese, onde, para além da decadência religiosa, os erros protestantes de Calvino haviam feito muitos estragos entre o povo. São Francisco de Régis foi o escolhido. Os seus sermões inflamados e as suas exortações atingiram directamente o coração dos seus ouvintes, produzindo muitas conversões. Causou sensação a de uma conhecida senhora protestante, que, abjurando a sua heresia, foi recebida solenemente no seio da Igreja. Esse facto ocasionou novas conversões
Para o zelo do missionário, não havia limites: dava aulas de catecismo às crianças, evangelizava os adultos, visitava os prisioneiros e os doentes e conduzia à emenda mulheres de má vida. Assistia os moribundos e tinha um dom especial para os dispar a morrer santamente. Fundou, com as senhoras da cidade, associações de caridade para amparar as famílias pobres, e, quando necessário, ia ele mesmo mendigar para as socorrer.
São Francisco de Régis quis morrer no campo de batalha, com as armas na mão. Ardendo de febre, dirigiu-se para Louvesc, a fim de pregar uma missão nas festas natalinas de 1640. Passou o tempo a pregar e a ouvir confissões sem se poupar um minuto, até cair no confessionário. Pediu então para ser levado para um estábulo, a fim de ter a consolação de expirar num estado semelhante ao do nascimento de Cristo.
Tantos foram os milagres ocorridos em seguida junto à sua sepultura, que os Arcebispos e Bispos do Languedoc francês escreveram uma carta ao Papa dizendo: “Somos testemunhas de que, diante do túmulo do P.e João Francisco de Régis, os cegos vêem, os coxos andam, os surdos ouvem e os mudos falam; e o ruído dessas assombrosas maravilhas espalhou-se por todas as nações.” O Sumo Pontífice Clemente XI beatificou então o grande jesuíta, em 1716, e o seu sucessor canonizou-o, em 1737.