Num momento em que a Igreja acabava de sair das catacumbas, e em que várias heresias feriam o Corpo Místico de Cristo, a Providência suscitou São Martinho de Tours para combatê-las e ser, pela sua doutrina e os seus milagres, o grande baluarte da Igreja no século iv.
No ano 313 de nossa era, Constantino dava liberdade à Igreja, que saía assim das catacumbas para evangelizar o mundo, seguindo o mandato de Nosso Senhor Jesus Cristo aos Apóstolos. Três anos depois, em 316, nascia em Sabaria da Panónia, na Hungria, numa família pagã, um dos seus mais ilustres filhos, Martinho. Seu pai era um veterano tribuno militar, que tinha um ódio de morte ao cristianismo, afirmando que uma religião que ensinava a amar os inimigos e a dar a outra face não podia ser verdadeira.
Por razões de serviço, a família mudou-se para Pavia, em Itália, onde Martinho fez seus primeiros estudos e conheceu de perto a verdadeira religião. A contemplação das virtudes e do exemplo dos cristãos impressionou-o muito. Iluminado pela graça, apesar de ter somente dez anos, Martinho conseguiu inscrever-se, sem conhecimento dos pais, no número dos catecúmenos.
Aos poucos, contudo, o progenitor foi percebendo, pela mudança operada no filho, que ele se fizera cristão. Para o afastar da fé, alistou-o no exército quando ele fez dezasseis anos. Diz um hagiógrafo a esse respeito: “Deus, que o destinava a ser mais tarde o modelo dos solitários, dos bispos e dos apóstolos, quis antes mostrar aos jovens militares, na sua pessoa, que a alma mais pura pode conservar-se intacta sob as armas; que uma fé sólida e piedosa se alia admiravelmente com a coragem do herói; que o verdadeiro cristão e o verdadeiro soldado são irmãos que podem compreender-se maravilhosamente, e que se assemelham pelo espírito de sacrifício e de dedicação ao bem comum que constitui a essência do seu ser” (Les Petits Bollandistes, Vies des Saints).
O historiador Sulpício Severo, contemporâneo e biógrafo do santo, diz que ele soube, no exército, conciliar os seus novos deveres com as aspirações da sua alma, levando uma vida de monge e de soldado, casta e sóbria, amável e valorosa.
Martinho estava no exército e era ainda catecúmeno (preparava-se para o baptismo) quando se deu com ele o memorável facto que é narrado em todas suas biografias. Certo dia de inclemente Inverno, estando as tropas aquarteladas em Amiens, Martinho foi fazer uma batida nos arredores da cidade. Às suas portas, foi abordado por um mendigo quase desnudo, que, tremendo de frio, lhe pediu esmola. Como não tivesse nada para dar ao homem, Martinho rasgou o seu manto de lã ao meio, e estendeu-lhe uma das metades. Pouco depois, o santo dava baixa no exército.
Por esse tempo, iluminava a Gália com a luz da sua ortodoxia e ciência Santo Hilário, Bispo de Poitiers. Como a virtude se atrai, Martinho foi ter com o “Atanásio do Ocidente” – assim chamado pelo seu estrénuo combate ao arianismo – para ser seu discípulo.
Nessa cidade, com as bênçãos de Santo Hilário, Martinho, já sacerdote, introduziu a vida monástica na Gália, fundando nas proximidades de Poitiers um mosteiro chamado Ligue. Pouco tempo depois, eram já oitenta os monges que ali cantavam os louvores de Deus.
Desse mosteiro Martinho saía para evangelizar os povoados e os campos ainda dominados pelo paganismo. Com o poder dos seus milagres e a força da sua doutrina, ia destruindo templos e ídolos, e pregando a verdadeira religião por toda parte.
Entre os milagres atribuídos ao santo durante sua vida está a ressurreição de um catecúmeno para que pudesse receber o baptismo. Também ressuscitou o criado de um nobre romano que se tinha enforcado, para o arrancar às portas do inferno.
Em 371, São Lidório, o Bispo de Tours, faleceu e os fiéis daquela diocese escolheram Martinho para o substituir. São Martinho tornar-se-ia o mais insigne bispo das Gálias, grande taumaturgo, patrono e protector perpétuo da nação francesa.
São Martinho de Tours entregou a alma a Deus no ano de 397, tornando-se um dos santos mais populares da Europa.