Nascido na primeira metade do século xii no seio da família dos condes de Nevers, Guilherme de Donjeon foi educado pelo seu tio materno, arquidiácono de Soissons. Com ele aprendeu a temer os perigos do mundo, a desprezar as riquezas, e a conhecer as alegrias do estudo unido à piedade.
Ordenado sacerdote, foi cónego em Soissons, e depois em Paris. Mas tudo abandonou para entrar na Abadia de Grandmont, na diocese de Limoges, e depois na de Pontigny, onde recebeu o hábito cisterciense. Sendo conhecidas as suas virtudes, Guilherme foi eleito prior e depois abade de Fontaine-Saint-Jean. Depressa deu mostras de ser um monge manso e alegre, embora constantemente preocupado com a mortificação dos sentidos e com as suas paixões.
Por esse tempo, vagando a sé arquiepiscopal de Bourges, Guilherme foi escolhido para a preencher, pelo que o obrigaram, em virtude da obediência, a aceitar o cargo.
Como arcebispo, Guilherme continuou a viver como monge, pela sua grande austeridade, as suas mortificações e a sua grande caridade. Ao mesmo tempo, conquistava os corações por uma grande humildade, doçura e sobretudo por uma alegria contagiante. Entretanto, quando se tratava de princípios, era tão firme, que atraiu a cólera do Rei Felipe II Augusto. Este, que foi o primeiro da dinastia dos Capetos a chamar-se Rei da França, era muito hábil, e transformou a França, de um pequeno Estado feudal, no país mais próspero e poderoso da Europa. Tendo ficado viúvo da Rainha Isabel, casou-se em segundas núpcias com Ingelburga, filha do Rei Valdemar. Mas não se deram bem, e o monarca pediu ao Papa a anulação do seu casamento, sob a alegação de que não tinha sido consumado, o que Ingelburga contestava. Sem esperar a resposta pontifícia, Felipe casou-se com Inês da Merania; e, como não quis voltar à sua legítima esposa, o Papa lançou um interdito contra a França. São Guilherme suspendeu então o culto divino na sua diocese, o que desgostou muito o rei e uma grande parte de seu clero, que não queriam dobrar-se à disciplina. Mais tarde, Felipe Augusto reatou a sua amizade com ele, e muitos clérigos fizeram penitência pública.
Durante os dez anos em que governou a Arquidiocese de Bourges, o santo tornou-se notável pelas missões que pregou contra os hereges maniqueus. Foi quando preparava uma nova visita pastoral por toda a sua arquidiocese que foi atingido pela doença que o levou ao leito. Percebendo que tinha os dias contados, São Guilherme ditou o seu testamento, recebeu os últimos sacramentos, e entrou em agonia. Mas teve ainda forças para receber a comunhão de joelhos.
No leito de morte, São Guilherme fez o seu capítulo jurar que entregaria o seu corpo aos cistercienses. No momento de expirar, exigiu que o deitassem sobre cinzas no chão, e foi assim que entregou o seu espírito ao Criador. Era o dia 10 de Janeiro de 1209.
Acontece que a população se recusou a ceder o corpo do santo aos monges de Chalis, tanto mais que, em 1218, o Papa Honório III inscreveu Guilherme no livro dos santos. O seu corpo foi então depositado em magnífica urna atrás do altar-mor da sua catedral. Para contentar os monges, privados de tão santas relíquias, deram-lhes um braço do santo.
Durante as Guerras de Religião, os protestantes destruíram a urna que continha os restos do santo, mas as suas relíquias foram recolhidas e expostas na igreja de São Leger, no Auvergne, e operaram muitos milagres. Finalmente, durante a nefasta Revolução Francesa, foram profanadas e destruídas pelos sem-Deus.