A LUZ DO SOL se obscureceu. O topo de uma azinheira pareceu curvar-se como sob a ação de um peso inexplicável. Havia pouco, três crianças – Lúcia de Jesus, Francisco e Jacinta Marto – notaram um clarão a que chamaram relâmpago, mas que era o reflexo de uma luz que se aproximara. Algumas pessoas presentes ao local ouviram um sussurro como se fosse o zumbido de abelhas. Era Nossa Senhora que aparecia pela segunda vez aos três pastores, trazendo-lhes uma mensagem do Céu, e o colóquio entre a Mãe de Deus e os pequenos portugueses assim se estabelecia. Tudo isso se passou em Fátima, Portugal, a 13 de junho de 1917.
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Nesta aparição, Nossa Senhora referiu-se à devoção a seu Puríssimo Coração. Dirigindo-se a Lúcia, de quem Nosso Senhor Jesus Cristo queria servir-se para fazer conhecer e amar Sua Mãe, disse a Virgem Santíssima: “Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração. A quem a abraçar, prometo a salvação; e serão queridas de Deus estas almas, como flores postas por Mim a adornar o seu trono”. E acrescentou: “O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus”.
“Foi no momento em que disse estas últimas palavras – relata a pequena vidente – que abriu as mãos e nos comunicou pela segunda vez o reflexo dessa luz intensa. Nela nos víamos como que submergidos em Deus. A Jacinta e o Francisco pareciam estar na parte dessa luz que se elevava para o Céu, e eu na que se espargia sobre a terra. À frente da palma da mão direita de Nossa Senhora estava um Coração cercado de espinhos que pareciam estar nele cravados. Compreendemos que era o Imaculado Coração de Maria, ultrajado pelos pecados da humanidade, que queria reparação”.
E na terceira aparição, a 13 de julho daquele mesmo ano, a Mãe de Deus deu-lhes um conselho e ensinou-lhes breve oração: “Sacrificai-vos pelos pecadores e dizei muitas vezes e em especial sempre que fizerdes algum sacrifício: Ó Jesus, é por vosso amor, pela conversão dos pecadores e em reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria”.
Nessa ocasião foi apresentada aos videntes a visão do inferno. Aterrorizados diante do terrível espetáculo, dirigiram-se a Nossa Senhora, que lhes disse com bondade e tristeza:
“Vistes o inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores. Para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração.
“Se fizerem o que Eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas e terão paz.
“A guerra vai acabar, mas se não deixarem de ofender a Deus, no reinado de Pio XI começará outra pior. Quando virdes uma noite alumiada por uma luz desconhecida, sabei que é o grande sinal que Deus vos dá de que vai punir o mundo de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de perseguições à Igreja e ao Santo Padre.
“Para a impedir, virei pedir a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja; os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas; por fim, o meu Imaculado Coração triunfará. O Santo Padre consagrar-Me-á a Rússia, que se converterá, e será concedido ao mundo algum tempo de paz” (*).
(*) Cfr. Antonio Augusto Borelli Machado, “As aparições e a mensagem de Fátima conforme os manuscritos da Irmã Lúcia”, Editora Vera Cruz, São Paulo, abril de 1984, 19ª ed.
Encontramos assim, nas revelações de Fátima, um convite insistente, pungente, imperioso para honrarmos Nossa Senhora, invocando seu Imaculado Coração.
Entretanto, o culto ao Puríssimo Coração de Maria já há muito tempo começara a brilhar no firmamento da Igreja.
A Sagrada Escritura apresenta um primeiro vestígio dessa devoção. “Maria conservava todas estas coisas, meditando-as em Seu coração” (Lc. 2, 19). Assim se refere o evangelista à atitude da Santíssima Virgem diante dos acontecimentos relativos ao nascimento do Divino Salvador. O velho Simeão profetiza sobre a Virgem Mãe que “uma espada traspassará a tua alma” (Lc. 2, 34). A arte sacra, interpretando bem o sentido dado à palavra “alma”, apresenta a “Mater dolorosa” ora com uma, ora com sete espadas traspassando seu Puríssimo Coração.
Mas somente no século XVII é que tal devoção mais se propagou, juntamente com a do Sagrado Coração de Jesus. Seu ardente apóstolo foi o fundador da Congregação de Jesus e Maria, São João Eudes.
No século passado, Santo Antonio Maria Claret foi o grande missionário de tão louvável devoção. Também nesse século, Pio VII e Pio IX concederam a algumas dioceses do mundo católico a licença de festejarem o Coração Puríssimo de Maria. E a 4 de maio de 1944, Pio XII estendeu tal comemoração a toda a Igreja, estabelecendo para a mesma a data de 22 de agosto.
Neste mês, portanto, homenageamos Nossa Senhora sob essa admirável invocação.
Dir-se-ia que o culto ao Imaculado Coração de Maria, em ascensão desde o século XVII, chegou a seu apogeu com a instituição da festa litúrgica em sua honra.
Contudo, essa não é a realidade.
A aparição da Rainha dos Céus em 1917 infelizmente não comoveu o coração do homem contemporâneo que, endurecido por causa de seus erros doutrinários e pecados, caminha rumo ao abismo.
Como vimos, os castigos previstos por Nossa Senhora em Fátima seriam evitados caso os homens se convertessem, a Rússia e o mundo fossem consagrados ao Imaculado Coração de Maria e se a comunhão reparadora do primeiro sábado de cada mês se implantasse em todo o orbe.
Esses pedidos feitos pela Mãe de Deus não foram atendidos. Quanto à consagração do mundo a seu Imaculado Coração, efetuada por Pio XII em 1942, observou a Irmã Lúcia atualmente religiosa carmelita em Coimbra – que ao ato faltaram alguns dos requisitos indicados por Nossa Senhora.
Assim, a Rússia continua a espalhar seus erros pelo mundo, “promovendo guerras e perseguições à Igreja”. A partir da segunda guerra mundial ela dominou grande número de países, movendo nos territórios subjugados inclemente perseguição religiosa. Os comunistas são responsáveis pela morte de um número incalculável de pessoas e pelo derramamento do sangue de numerosos mártires. A força destruidora da tirania vermelha fez-se sentir mais recentemente no Vietnã, Laos, Cambodge, e de modo especial no Afeganistão. No continente americano pode-se constatar a marxistização de Cuba e Nicarágua, além de ações guerrilheiras em várias outras nações. Em nosso País, a ação subversiva efetua-se, de maneira perplexitante, especialmente através da esquerda “católica”, como pudemos comprovar nas recentes agitações rurais e urbanas (Cfr. “Catolicismo”, n° 402, de junho/ 84).
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Desse modo, vão-se cumprindo as profecias de Nossa Senhora. Que Ela nos faça compreender a gravidade do momento presente e detestar os pecados que se cometem contra Deus Nosso Senhor, dando-nos força para enfrentarmos os acontecimentos futuros. Assim, ser-nos-á facultado chegar à aurora de Seu Reino nesta terra, anunciado em Fátima com essas palavras: “Por fim Meu Imaculado Coração triunfará”.
Fonte : revista Catolicismo