Um dos 12 discípulos escolhidos por Cristo para disseminar o Evangelho no mundo ficou célebre por ter duvidado da Ressurreição.
À excepção de São Pedro e São João, os evangelistas dizem-nos muito pouco sobre a vida dos 12 homens através dos quais a santa religião foi pregada a quase todo o mundo civilizado da época. Torna-se pois necessário procurar dados na tradição eclesiástica e em alguns apócrifos.
São Tomé não é excepção. Nada sabemos sobre a sua vida antes da sua escolha para o colégio apostólico, e muito pouco do que sucedeu depois.
O que sabemos é o que o Evangelho nos diz: que era um dos discípulos que acompanhavam o Salvador na sua vida pública. Com efeito, Jesus “escolheu doze deles, aos quais deu o nome de apóstolos: Simão, a quem pôs o nome de Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; Simão Cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor” (Mt 10, 2-4).
A primeira menção feita pelas Sagradas Escrituras a São Tomé fora da lista dos Apóstolos mostra que, se ele foi o apóstolo da dúvida, também foi o da decisão. Pois quando Nosso Senhor, estando “para além do Jordão, no lugar onde João começara a baptizar”, anunciou a sua intenção de retornar à Judeia para ressuscitar Lázaro – o que representava um grande risco devido à conspiração dos fariseus para o prenderem –, “disse então Tomé, chamado Dídimo [gémeo], aos condiscípulos: ‘Vamos nós também para morrer com Ele’” (Jo 11, 16), mostrando assim a sua determinada decisão de dar a vida por Cristo.
Doutra vez, São Tomé aparece no Evangelho a fazer uma pergunta a Nosso Senhor. Antes da Última Ceia, o Divino Mestre havia dito aos Apóstolos: “Depois de ir e vos preparar um lugar, voltarei e tomar-vos-ei comigo, para que onde Eu estiver também vós estejais. E vós conheceis o caminho para onde Eu vou”. Disse-lhe então Tomé: “Senhor, não sabemos para onde vais. Como podemos conhecer o caminho?” Jesus respondeu-lhe: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por Mim. Se Me conhecêsseis, também certamente conheceríeis meu Pai; desde agora já O conheceis, pois O tendes visto” (Jo 14, 3-7).
Mas este santo é mais conhecido pela sua dúvida. Quando, após a Ressurreição, o nosso Divino Redentor apareceu aos seus discípulos, Tomé estava ausente. Voltando ele ao Cenáculo, “os outros discípulos disseram-lhe: ‘Vimos o Senhor’. Mas ele replicou-lhes: ‘Se não vir nas suas mãos o sinal dos pregos, e não puser o meu dedo no lugar dos pregos, e não introduzir a minha mão no seu lado, não acreditarei!’” Ou seja, duvidou mesmo! Continua São João: “Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez no mesmo lugar e Tomé com eles. Estando trancadas as portas, veio Jesus, pôs-Se no meio deles e disse: ‘A paz esteja convosco!’ Depois disse a Tomé: ‘Introduz aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos. Põe a tua mão no meu lado, e não sejas incrédulo, mas homem de fé’. Respondeu-lhe Tomé: ‘Meu Senhor e meu Deus!’”, reconhecendo assim a dupla natureza, divina e humana, do Redentor.
Há muita controvérsia sobre o verdadeiro campo de apostolado de São Tomé. Segundo uma tradição antiga – que tem suporte em alguns santos, como São Jerónimo –, terá morrido na Índia. Segundo essa tradição, após ter fundado uma cristandade na costa do Malabar, Tomé confiou-a a um bispo e a sacerdotes ordenados por ele, e passou à Costa do Coromandel, do outro lado do subcontinente indiano, no actual Estado de Tamil Nadu. Aí fez também inúmeras conversões, até ser martirizado, no ano 72, na cidade de Meliapor, trespassado por uma lança.
Ainda segundo conspícuos autores, em meados do século iii, alguns mercadores estrangeiros levaram a maior parte das relíquias do Apóstolo para Edessa. Tais autores afirmam que, no ano 232, as relíquias do apóstolo Tomé foram trazidas de Meliapor, na Índia, ocasião em que foram escritos os seus actos, em siríaco. Isto é confirmado pelo Martirológio Romano, que diz, no dia 3 de Julho: “Em Edessa, na Mesopotâmia, traslacção de São Tomé Apóstolo desde a Índia, cujas relíquias foram depois levadas para Ortona-a-Mare, nos Abruzzos”, onde se encontram ainda hoje.