São Vicente de Paulo foi uma figura extraordinária no seio da Igreja do século xvii. São Francisco de Sales, seu contemporâneo, considerava-o “o padre mais santo do século”; e Bossuet, famoso pregador francês e também seu contemporâneo, exclamava: “Que bom deve ser Deus, quando fez Vicente de Paulo tão bom!” Essa bondade tão grande era fruto de seu amor a Deus, a quem via nos seus semelhantes, e de uma humildade que se manifestava no meio das maiores honras. Praticamente não houve em França obra de misericórdia espiritual ou temporal a que São Vicente não estivesse ligado. A sua vida foi tão cheia que apenas poderemos fazer um apanhado geral dela, ressaltando alguns traços mais marcantes.
São Vicente nasceu a 24 de Abril de 1581, em Pouy, Landes, França, numa família de lavradores, provavelmente originária de Espanha. Era guardador do rebanho familiar mas, apercebendo-se da sua inteligência, os pais mandaram-no estudar com os franciscanos.
Trabalhando como preceptor, conseguiu estudar humanidades. Ordenado sacerdote, numa viagem caiu prisioneiro dos turcos, que o venderam como escravo em Tunes; conseguiu recuperar a liberdade dois anos depois.
Em França, foi conselheiro e capelão da Rainha Margarida de Valois. Dedicou-se depois inteiramente ao apostolado com os pobres, reunindo sacerdotes para os missionar, no domínio dos Gondi. Daí nasceu, em 1626, a Congregação da Missão.
Ao mesmo tempo, fomentava a prática dos exercícios espirituais, principalmente para o clero. Começou a reunir senhoras que se encarregassem dos pobres que estivessem doentes e, deste modo, formou a primeira confraria da caridade. Multiplicando-se estas, era preciso uma mulher de pulso para as dirigir; foi então que apareceu Santa Luisa de Marillac, com quem fundou as Irmãs da Caridade.
Ana de Áustria, que foi regente durante a minoridade de Luís XIV, nomeou o santo para o seu Conselho de Consciência, que tratava das questões eclesiásticas, onde São Vicente se esforçou por levar o seu desejo de renovação religiosa às mais altas esferas, por meio da indicação de bons bispos.
São Vicente de Paulo lutou muito contra a influência maléfica do jansenismo, uma das mais perigosas heresias que perturbaram a Igreja: trabalhou com todas as suas forças para manter a sua Companhia infensa ao erro, no qual caíram outras comunidades religiosas e mesmo bispos; e, no Conselho de Consciência, empenhou-se em indicar candidatos a bispos que fossem infensos a essa heresia.
Com efeito, de tempos a tempos o Cardeal de Richelieu consultava São Vicente de Paulo sobre assuntos eclesiásticos, principalmente sobre os eclesiásticos que achava dignos do episcopado. O santo mostrou-lhe que, para ter bons eclesiásticos, era necessário ir ao seu nascimento, isto é, ao seminário menor, segundo a intenção do Concílio de Trento. O Cardeal forneceu então a São Vicente uma grande importância para estabelecer um seminário menor e outro maior, nos quais se devia incentivar sobretudo a virtude e a oração. Vendo os belos frutos desses seminários, vários bispos quiseram ter o mesmo nas suas dioceses, e confiaram a sua direcção aos Padres das Missões.
São Vicente ambicionava ainda mais: não era suficiente ter eclesiásticos bem formados, se não fossem auxiliados por leigos também com boa formação religiosa. Abriu então as portas da Casa-Mãe dos Lazaristas (como ficaram conhecidos os seus sacerdotes) a todos os leigos que quisessem retemperar a sua fé por meio de um retiro espiritual bem feito. Isto foi de grande importância para a reforma religiosa.
São Vicente de Paulo faleceu em 27 de Setembro de 1660, quase octogenário, e foi sepultado na capela-mãe da Igreja de São Lázaro, em Paris. Foi canonizado em 1737, e em 1885 declarado por Leão XIII patrono de todas as obras de caridade da Igreja Católica.