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11/3 – Santo Eulógio de Córdova, Mártir

Renovador do fervor religioso e da cultura da cristandade moçárabe (como eram conhecidos os cristãos sob o domínio mouro), foi autor de vários escritos hagiográficos e apologéticos, e introduziu nas bibliotecas cordovesas valiosos livros da cultura clássica, antes de ser mártir por Jesus Cristo. É considerado o grande Doutor da Igreja moçárabe.

No início do século v, os visigodos − povo germânico oriundo da Escandinávia – invadiram a Península Ibérica, que fora invadida anteriormente pelos vândalos, suevos e alanos, que haviam suplantado a decadente população hispano-romana.

Os novos invasores eram hereges arianos; os hispano-romanos eram católicos. Só em 587 o rei visigodo Recaredo abjurou a heresia ariana, tornando-se católico com parte de seus súbditos. Apesar de dominarem política e administrativamente o território peninsular, os visigodos nunca foram capazes de realizar uma colonização efectiva, visto serem, em número, inferiores à restante população da região.

No início do século viii, já estavam tão decadentes, que foi possível, em 711, aos árabes, comandados por Tarique de Tânger, atravessarem o Estreito de Gibraltar e penetrarem profundamente na Península Ibérica, instaurando o que chamaram o Al-Andaluz.

No início do século ix, do qual nos ocupamos, os islamitas permitiam o exercício público da religião católica, com as suas igrejas e os seus mosteiros, contentando-se em cobrar um tributo de cada cristão. Assim, a Igreja vivia em relativa paz sob os ocupantes.

Foi nesse contexto que Santo Eulógio nasceu em Córdova, no início do século ix. Seus pais eram nobres e ricos, pertencendo à primeira nobreza hispano-romana, e conformavam-se em tudo com a lei de Deus e da Igreja. Por isso, deram aos filhos uma educação eximiamente católica, que os preparou para enfrentarem as más influências ariana, da parte dos visigodos, e muçulmana, dos árabes.

Aos 25 anos, Eulógio foi ordenado sacerdote, e integrou-se ao clero da igreja de São Zoilo, também em Córdova. Passou então a dividir o seu tempo entre a contemplação em algum dos mosteiros da região e a cura das almas.

Aconteceu nesta altura que, num auge de fervor, muitos católicos defendiam com ufania a sua fé, maldizendo Maomé e os seus sequazes, e obtendo assim a coroa do martírio. Foi quando entrou em cena o Arcebispo de Sevilha, Recafredo, que, por temor ou lisonja, se coligou com o emir, a quem diziam que devia o episcopado. A pedido dele, o indigno prelado começou a anatematizar os mártires, a quem chamava “fanáticos” e “perturbadores da Igreja e da sociedade”, sendo ele mesmo o causador da prisão do Bispo de Córdova e de vários sacerdotes seus, entre eles Santo Eulógio, a quem acusava de dar ânimo e fortaleza aos mártires voluntários.

Abderramão, que temia uma revolução, tomou medidas severas contra os cristãos, mandando decapitar quem se atrevesse a falar com desprezo de Maomé. O resultado, segundo o próprio Santo Eulógio, foi que, “aterrados pela cólera do tirano, muitos mudaram de parecer com volubilidade inaudita, e começaram a maldizer os mártires”.

Depois de passar algum tempo na prisão, o santo foi libertado. No ano de 857, escreveu uma Apologética dos Santos Mártires, contra aqueles que negavam a palma do martírio aos heróis de Jesus Cristo que se ofereciam livremente aos seus verdugos.

No ano seguinte, vagando a sé de Toledo, Santo Eulógio foi eleito arcebispo metropolitano, pela admiração que já despertava em toda a Espanha. Diz Álvaro de Córdova: “Mas Deus não tardou a pôr sobre sua fronte o ornamento do episcopado celestial; porque, se é verdade que nem todos os bispos são santos, pode-se bem dizer que todos os santos são bispos.”

O prestígio pessoal de Eulógio e a sua dignidade de bispo eleito de Toledo fizeram com que o próprio emir julgasse o seu caso. O santo fez então uma longa e ardente defesa do cristianismo, e chegou mesmo a convidar os seus juízes a adorarem “o único e verdadeiro Deus”. Tanto bastou para que o condenassem à morte por decapitação. Álvaro de Córdova exclama: “Este foi o combate formosíssimo do doutor Eulógio, este o seu glorioso fim, este o seu trânsito admirável. Eram 3 da tarde de um sábado, 11 de Março de 859.”

Santo Eulógio deixou um perfeito relato da doutrina católica ortodoxa, que defendia, da cultura intelectual, que propagava, do encarceramento e dos sofrimentos que sofreu, numa palavra, os seus escritos mostram que seguia à letra a exortação de São Paulo: “Sede meus imitadores, como eu sou de Cristo.”


Foto: Andreas Praefcke [Public domain]

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