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11/07 – São Bento Abade, Confessor

No seu livro Diálogos, sobre vidas de santos, o Papa São Gregório Magno inicia assim o capítulo II, dedicado a São Bento:

“Houve um homem de vida venerável pela graça e pelo nome, Bento, que desde a sua infância teve a cordura de um ancião. Com efeito, adiantando-se pelos seus costumes à idade, não entregou o seu espírito a prazer sensual algum, senão que, estando ainda nesta Terra e podendo gozar livremente das coisas temporais, desprezou o mundo e suas flores, como se estivessem murchas.”

Bento era oriundo da nobre família Anicia, que dera a Roma cônsules e imperadores, e nasceu no povoado de Sabino, em Núrcia, na Umbria, por volta de 480. Quatro anos antes, Odoacro, chefe de um exército de mercenários germânicos de estirpe hérula, destituía o último imperador romano, fazendo cessar o domínio de Roma sobre todo o mundo civilizado de então.

O santo tinha uma irmã gêmea, Escolástica, da qual se sabe que foi consagrada a Deus desde a infância; mas não se conhecem pormenores da sua vida, senão de pouco antes da sua morte.

Acompanhado da sua ama-de-leite, Bento foi estudar para Roma, onde permaneceu algum tempo. Acontece que, nas escolas e nos colégios, os jovens imitavam os vícios de seus maiores, pelo que Bento, desgostoso, se retirou – ainda com a ama-de-leite – para a cidade de Efide, onde, auxiliado “por muitos homens honrados”, se instalou perto da igreja de São Pedro.

Mais adiante, resolveu retirar-se para um lugar inteiramente isolado, onde pudesse estar a sós com Deus, e foi para uma região agreste e montanhosa, chamada Subíaco. Aí encontrou um monge, Romão, que, sabendo dos seus desígnios, lhe deu um hábito de eremita, e lhe indicou uma gruta tão inacessível, que dificilmente alguém poderia encontrá-lo. O mesmo São Romão fazia-lhe descer um pão por uma corda, à qual amarrara uma sineta. Nesse recolhimento total viveu o solitário durante três anos.

Ocorreu então que foi descoberto por uns pastores, a quem falou da religião. Aos poucos, a sua fama de santidade irradiou pela região.

Nas proximidades de Subíaco, havia um mosteiro que tinha perdido o seu primitivo fervor. Falecendo o abade, os monges escolheram Bento para o seu lugar. Em vão ele resistiu: para o bem da paz, acabou por ceder. Mas os monges não puderam suportar as suas contínuas admoestações, os seus conselhos e, sobretudo, a força do seu exemplo, e resolveram envenená-lo: deram-lhe uma taça de vinho na qual haviam derramado uma substância fortemente venenosa. Mas o santo, como era seu costume, fez o sinal da cruz sobre a taça antes de beber, e ela despedaçou-se-lhe nas mãos. Bento voltou então para a sua amada solidão de Subíaco

Aos poucos, foram surgindo conventos ao redor de Subíaco, num total de 12, cada um com 12 monges e um superior, todos eles sob a supervisão de Bento.

Vendo o bem que este fazia, consentindo numa tentação de inveja suscitada pelo demónio, Florêncio, um sacerdote que morava nas proximidades, encheu-se de ódio contra ele, e tentou matá-lo, enviando-lhe um pão envenenado. Mas São Bento, conhecendo por revelação o intuito do homem, ordenou a um corvo que levasse aquele pão para um lugar onde não pudesse causar dano a ninguém.

Sabendo o santo da ofensiva de que era objecto, resolveu retirar-se com alguns discípulos. Chegou então à região do Monte Cassino, onde encontrou as ruínas de uma cidade onde o deus pagão Apolo havia sido venerado. Aí mandou plantar uma cruz, e deu início à construção do mosteiro que tanto bem faria ao mundo do seu tempo.

Querendo que os seus monges unissem a vida activa à contemplativa, segundo a máxima “Ora et labora [reza e trabalha]”, São Bento escreveu a sua Regra, obra-mestra destinada à perpetuidade. Ela é, de acordo com Bossuet, uma “suma do cristianismo, resumo douto e misterioso de toda a doutrina do Evangelho, das instituições dos Santos Padres, de todos os conselhos de perfeição, na qual se alcança, no seu cimo mais alto, a prudência e a simplicidade, a humildade e o valor, a severidade e a doçura, a liberdade e a dependência; na qual a correcção tem toda a firmeza, a condescendência todo o encanto, a voz de mando todo o vigor, a sujeição todo o repouso, o silêncio a sua gravidade, a palavra a sua graça, a força o seu exercício, e a debilidade o seu apoio.”

São Bento faleceu no dia 21 de Março de 543.


Foto: Fra Angelico [Public domain]

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