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Essas almas vindas do Islão que abraçam a Cruz de Cristo com heroísmo

No momento em que o Ocidente católico parece afundar-se no esquecimento das suas raízes, Deus, num gesto tão discreto quanto magnífico, faz surgir chamas onde se esperavam trevas. É assim que vemos despontar, quase às escondidas, os fogos da fé onde pareciam mais improváveis: em homens e mulheres nascidos no Islão.

E, no entanto, essas conversões existem, e transformam tudo. Almas descobrem Jesus Cristo e, com uma pureza de coração admirável, abraçam-No com um amor ardente, uma entrega total, uma coragem digna dos primeiros mártires.

Tal é a realidade destes baptismos discretos, mas profundos. Sim, enquanto muitos católicos em França vivem uma fé mais marcada pela tradição ou pelo legado familiar do que por uma convicção pessoal — como explicava Jérôme Fourquet no Le Figaro de 20 de Junho de 2025 —, alguns descobrem Cristo ao preço do exílio, da rejeição familiar e até da ameaça de morte. Fourquet observa, com efeito, que «passámos de um catolicismo de tradição ou de conformismo, com uma base muito ampla na população, para um catolicismo escolhido, incarnado por um núcleo duro restrito, mas vivido com maior intensidade».

Damien (nome fictício), antigo muçulmano iraniano, encontrou Cristo em França. O seu testemunho é cristalino: «Sacrifiquei tudo por Jesus.» Divorciado, exilado, afastado dos seus, afirma com uma paz comovente: «Deus não é um tirano. É amor.» Youssra, uma jovem de 28 anos, diz ter sido libertada ao encontrar o Evangelho. Mas essa libertação teve um preço: ruptura familiar, solidão, desenraizamento. «Já nada me resta… excepto a paz interior.» Jeanne, convertida aos 39 anos, vivia num meio cultural muçulmano muito rigoroso. No dia do seu baptismo, entrou na igreja a chorar. Não de medo. De gratidão.

Não se trata de casos isolados: segundo a Conferência Episcopal de França, entre 300 e 400 muçulmanos recebem o baptismo todos os anos, muitas vezes durante a Vigília Pascal (Valeurs Actuelles, 22 de Julho de 2025). Mas este número não diz tudo. O que impressiona é a intensidade da sua fé, o preço da sua escolha. Não se limitam a mudar de rito: abraçam uma Cruz, por vezes com risco de vida.

Perante esta efusão de graças, alguns padres hesitam. Algumas paróquias vacilam. Certas equipas pastorais, em nome de um diálogo por vezes mal compreendido, chegam a dizer a estas almas em chamas para «permanecerem muçulmanas no coração». «Por excesso de caridade, alguns reenviam-nos para a sua comunidade de origem», lamenta um padre parisiense citado no La Croix, de 19 de Junho de 2024. O artigo sublinha que certos catecúmenos têm de bater a seis ou sete paróquias antes de serem simplesmente acolhidos.

Este drama revela um dilema mais profundo: a Igreja obedece ao Espírito de Deus ou ao espírito do mundo? Cristo disse sem rodeios: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim.» (João 14, 6) Estes convertidos compreenderam-no, e ousam proclamar aquilo que muitos já não se atrevem a dizer: Jesus Cristo é o único Salvador.

Estes testemunhos ardentes apelam a um despertar. Os católicos de França — muitas vezes ligados à sua fé por hábito ou por cultura — são chamados a redescobrir a radicalidade do Evangelho. Não se trata de condenar, mas de abrir os olhos para esta obra do Espírito Santo que se realiza na sombra. Uma obra viva, audaz, heroica. E uma interpelação directa a cada um de nós: o que fazemos com a nossa fé?

O cardeal Pie dizia no século XIX, com uma clareza profética: «Não mudaremos a essência das coisas; Jesus Cristo é a pedra angular de toda a ordem social. Sem Ele, tudo se desmorona, tudo se divide e perece.» (Œuvres, vol. II, p. 335). Hoje, estes convertidos são a prova viva disso. Não tiveram medo. Não negociaram. Abandonaram tudo, como Abraão.

E nós? Continuaremos espectadores deste fogo que se reacende no coração mesmo da Igreja? Ou decidiremos abraçá-lo, segui-lo, converter-nos também nós? Que Maria, Rainha dos convertidos, os proteja. Que São Paulo, outrora perseguidor tornado apóstolo, os inspire. E que a Igreja de França reencontre nestas almas heroicas o fogo do primeiro Pentecostes.

Por Nathalie Burckhardt em: https://tfp-france.org/

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