Escola de equitação lusa mantém tradições da antiga cavalaria ibérica, célebre pela sua extraordinária agilidade.
Numa manhã soalheira do mês de Maio, partiu de Lisboa um grupo especial, que se dirigiu a Queluz – numa pequena viagem de cerca de 10 quilómetros – para ver e apreciar uma tradição do Portugal de sempre: a alta escola de equitação.
O Palácio de Queluz – onde nasceu e morreu o nosso primeiro Imperador – recebeu os visitantes com a célebre hospitalidade lusa. É nesse local que, de Maio a Outubro, todas as quartas-feiras de manhã, tem lugar um espetáculo de harmonia e elegância em que cavaleiros airosamente trajados à moda do século xviii dominam com rigor e leveza belos corcéis lusitanos.
Nesse dia, o Palácio recebeu a visita de um descendente de D. Pedro I, o Príncipe D. António de Orleães e Bragança, acompanhado da esposa, a Princesa D. Christina, dos Condes de Proença-a-Velha e de um animado grupo de portugueses.
A apresentação iniciou-se às 11h, nos jardins do Palácio. Cavalos e cavaleiros, em sincronia, começaram um autêntico ballet, pois o desfile equestre é acompanhado de música barroca.
A escola portuguesa
Esta Escola de Arte Equestre é a continuação da antiga Picaria Real, a academia equestre da Corte portuguesa, encerrada em 1807, quando das invasões napoleónicas. Contudo, os ensinamentos e a tradição não se perderam, preservados pela paixão portuguesa – jamais interrompida – pelo torneio a cavalo, que manteve a mesma equitação, as mesmas selas e os mesmos trajes.
Esta escola possui o magnífico património cultural da arte equestre, e destina-se a conservar e dar a conhecer essa maravilha, bem como a praticar e ensinar a arte de montar, estando a um nível semelhante ao da grandiosa Escola Espanhola Equestre de Viena, ou da francesa Cadre Noir de Saumur.
O cavalo ibérico
Em Portugal, conservou-se a pureza e a qualidade da raça equina. A leveza e a flexibilidade do cavalo ibérico remonta aos séculos de guerras ibéricas, primeiro contra os cartagineses, depois os romanos e os árabes, e finalmente contra os franceses. Estes últimos não conseguiram derrotar a cavalaria ibérica, pois a maneira de montar dos cavaleiros portugueses, utilizando estribos curtos, era de uma agilidade única. Tal modo de montar, conhecido como à gineta, foi a base da Academia Equestre de Nápoles – e de todas as que surgiram posteriormente, fundadas no Renascimento –, numa tentativa de aligeirar o método nórdico de montar, dito à brida.
A Coudelaria de Alter
Afirmava um especialista em cavalos: “Trono de reis, cúmplice na dilatação da fé e do Império, o cavalo lusitano lateja indubitavelmente nos nossos corações”.
Os cavalos que encantaram todos os presentes naquela manhã com evoluções passos e cadências eram provenientes de uma cidade do Alentejo – região ao sul de Portugal – chamada Alter do Chão.
A coudelaria (haras), fundada por D. João V – influenciado pela esposa, a Rainha D. Maria Ana de Áustria, que admirava profundamente a Escola de Viena –, acaba de completar um quarto de milénio.
Ao Rei D. João V, que reinou durante o período do apogeu da extracção do ouro no Brasil, se deve esse haras capaz de rivalizar com os principais congéneres europeus.
Era a época do barroco, na qual se construíram, por exemplo, o magnífico Convento de Mafra e a deslumbrante Biblioteca da Universidade de Coimbra. Por isso, o cavalo de Alter é conhecido como o cavalo barroco e a arte equestre ali desenvolvida como a arte barroca de montar. Essa belíssima arte sempre mereceu um lugar de destaque na história e na cultura de Portugal.
O mais notável equitador português de todos os tempos foi o quarto Marquês de Marialva, a ponto de ainda hoje se chamar a essa arte equestre arte de Marialva.
No Palácio de Queluz, os Marialvas dominavam os animais, conduzindo-os em cenas de rara beleza durante cerca de 45 minutos. Foram enormemente apreciados pelos Príncipes do Brasil e os seus acompanhantes.
Ibsen Noronha