Recebendo de Deus a missão de libertar a França do jugo dos ingleses, a admirável Donzela de Orleans foi martirizada no cumprimento dessa sublime missão.
Joana nasceu na festa da Epifania de 1412, na pitoresca aldeia de Domrémy (Lorena francesa). Seus pais foram Jacques D’Arc e Isabelle Romée, “excelentes trabalhadores e fervorosos católicos, que serviam a Deus com um coração simples e educavam os filhos no trabalho e no temor de Deus”, conforme testemunho de contemporâneos.
Logo que a idade o permitiu, Joana entregou-se aos trabalhos da casa. Mais que uma criança precoce, era uma criança virtuosa. Tinha um coração bom e compassivo, uma prudência madura; era modesta, humilde mas determinada, e apontada como exemplo em toda a aldeia.
A inocência de vida e a simplicidade de coração de Joana atraíram-lhe os olhares do Céu. E foi assim que lhe apareceu o Arcanjo São Miguel, rodeado de Anjos. O Príncipe da milícia celeste narrou-lhe o triste estado (“grande penúria”) em que estava a França, dizendo-lhe que ela deveria apressar-se a socorrê-la; e que Santa Margarida e Santa Catarina viriam incentivá-la da parte de Deus. E vieram, falando-lhe igualmente da “grande penúria” e da necessidade de ela cumprir essa missão.
Joana mostrou-se digna da missão que lhe foi confiada. Seguindo as directrizes do “Senhor São Miguel, da Senhora Santa Catarina e da Senhora Santa Margarida”, venceu todas objecções e foi avante. E, de facto, chegou à corte doRrei, em Chinon.
Segundo um contemporâneo, “o seu discurso foi abundante, poderoso e inspirado, como o de uma profetiza”. Disse ao Rei que vinha da parte do “seu Senhor”, o Rei do Céu, a quem pertencia o reino da França, e não a ele. Mas o “seu Senhor” queria muito confiar a guarda desse reino ao Rei, e ela o levaria a Reims para ser coroado. Para provar o carácter divino da sua missão, revelou em particular a Carlos VII um segredo que somente ele e Deus poderiam saber.
A retumbante vitória que alcançou, fazendo levantar o cerco de Orleans, conseguiu mudar o quadro de então. O caminho para a sagração em Reims estava praticamente aberto.
Após a sagração do Rei na catedral de Reims, Joana afirmou ao Arcebispo daquela cidade: “Praza a Deus, meu Criador, que eu possa agora partir, abandonando as armas, e ir servir meu pai e minha mãe guardando as suas ovelhas, com minha irmã e meus irmãos, que terão grande alegria em me rever!” No auge da sua glória, não desejava senão retirar-se para a sombra.
Os soldados insistiram com ela para que continuasse a comandar as tropas. Aquiesceu, mas limitou-se a comandar seguindo os conselhos dos generais, pois as suas “vozes” tinham deixado de lhe dar indicações, limitando-se a dizer-lhe que seria feita prisioneira e vendida aos ingleses, mas que confiasse, pois Deus não a abandonaria.
No dia 23 de Maio de 1430, em Compiègne, apesar de prodígios de valor, Joana caiu na mão dos borguinhões, que a venderam aos ingleses a preço de ouro.
Ao tribunal reunido em Rouen, Joana afirmou: “Tudo o que fiz de bem pela França, fi-lo pela graça e segundo a ordem de Deus, o Rei do Céu, como Ele me revelou pelos seus Anjos e Santos; e tudo o que sei, sei-o unicamente pelas revelações divinas.” Consciente de que havia feito bem o que lhe fora pedido, afirmou: “Tudo o que as vozes me ordenaram, fi-lo o melhor que pude, segundo as minhas forças e a minha inteligência. Essas vozes não me ordenaram nada sem a permissão e o beneplácito de Deus, e tudo o que fiz, obedecendo-lhes, creio ter feito bem.”
Após a farsa do processo em que esta adolescente analfabeta respondeu a perguntas que confundiam os próprios teólogos, Joana foi condenada à fogueira. Morreu a 30 de Maio de 1431, lançando um supremo brado de fé e de confiança: “As vozes não mentiram! Jesus! Jesus! Jesus!”
Com o incentivo e o apoio de Carlos VII, Isabelle Romée, mãe da santa, resolveu proceder à reabilitação da filha. Pediu a Roma a revisão da horrível iniquidade, e obteve-a. Antes de fechar os olhos, teve a augusta alegria de ver o Papa Calisto III reformar, abrogar e anular, como mentirosa, ilegal e injusta, a sentença do iníquo tribunal.
Mas a maior glorificação da Donzela de Orléans viria da Igreja, que a beatificou em 18 de Abril de 1909, no pontificado de São Pio X. Bento XV canonizou-a em 1920.