Santo André Bobola foi martirizado pelos cismáticos russos com uma crueldade tal, que não houve praticamente parte do seu corpo que não tenha sido atingida, a ponto de a Sagrada Congregação dos Ritos ter afirmado que “é talvez o martírio mais cruel que jamais se submeteu ao exame desta sagrada Congregação”.
André Bobola nasceu no ano de 1592, no Palatinado de Sandomir, na Polónia, de família ilustre e religiosa. Fez os seus estudos no colégio jesuíta da sua cidade natal, e já era apontado pelos mestres como modelo para os outros estudantes.
Aos 21 anos, entrou para a Companhia de Jesus em Vilnius, na Lituânia. Depois de fazer a profissão religiosa, foi empregado na educação da juventude em vários colégios jesuítas, conquistando os seus alunos pela sua extrema amabilidade e bondade de coração.
Por esse tempo, os cossacos da Ucrânia, os russos e os tártaros devastavam a Polónia, e a fé católica era objecto dos ataques simultâneos de protestantes e cismáticos. Os jesuítas eram os mais odiados; muitos foram expulsos de suas casas e levados para o cativeiro. Era, pois, uma época muito difícil para o apostolado, mas o intrépido P.e Bobola não se detinha diante dessas dificuldades, podendo dizer, como São Paulo: “Ai de mim se não evangelizar!”
O seu apostolado era fecundo. Só numa das cidades da Lituânia, se bem que das mais cultas, Janow, que contava com apenas dois católicos quando ele começou a evangelizá-la, o seu trabalho foi tão abençoado, que à sua morte praticamente toda a cidade tinha voltado à verdadeira fé. Nem os fiéis da chamada Igreja Ortodoxa Russa podiam resistir à sua pregação e passavam em grande número para a verdadeira Igreja.
Os sacerdotes cismáticos, não podendo segurar esses fiéis nas suas fileiras, voltavam todo o seu ódio contra o missionário, e pagavam a marginais para o atacarem com injúrias e maus tratos.
No dia 16 de Maio do ano de 1657, véspera da Ascensão de Nosso Senhor, Santo André Bobola estava na pequena cidade de Perezdyle, onde fora pregar em preparação para a festa do dia seguinte. À notícia da aproximação dos cossacos, os fiéis pressionaram o santo para que fugisse. Porém, dois dos cossacos alcançaram-no, despiram-no, amarraram-no a uma árvore e espancaram-no. Era o começo de uma série inaudita de tormentos que só o ódio religioso pode suscitar.
Levado à presença dos chefes, estes quiseram obter a apostasia do campeão de Jesus Cristo. Como nada conseguissem, ataram-no a um poste e flagelaram-lo impiedosamente durante largo tempo. Depois, pegando em dois galhos de um arbusto, aplicaram-nos em redor da cabeça do santo, apertando-os por meio de torções e contorções e provocando-lhe dores atrozes.
Mas não pararam por aí. Ligaram-no às selas de dois cavaleiros e obrigaram o generoso mártir a segui-los até Janów (a moderna Ivanava, na Bielorrússia). Como ele não andava com a velocidade desejada pelos cossacos, deram-lhe vários golpes, recebendo ele nesta ocasião duas profundas feridas nos braços.
À entrada de Janów, havia uma pequena casa destinada a matadouro público, para onde levaram o santo; amarraram-no a um banco e, com tochas, foram-lhe queimando a fogo lento os lados e o peito. Lembrando-se de que a vítima era sacerdote católico, cortaram-lhe a pele da cabeça, no local da tonsura eclesiástica, deixando os ossos do crânio a descoberto. Arrancando a pele das mãos que tinham recebido a unção sagrada, mutilaram-lhas, cortando-lhe as falanges de ambos os polegares, que serviam para a consagração da Vítima do Calvário, e o indicador da mão direita, desligando-lhe os músculos da mão esquerda para lhe arrancarem os dedos juntamente com a pele. Virando o corpo do mártir, tiraram-lhe a pele das costas e de uma parte dos braços, e à carne viva lançaram palha de cevada moída. Depois, afiaram estiletes de madeira e meteram-nos debaixo das unhas dos artelhos e dos dedos da vítima. Tudo isto, a exemplo do que foi feito com Nosso Senhor na sua Paixão, entremeado com pancadas e bofetadas tão fortes, que fizeram saltar vários dentes do mártir, inchando-lhe enormemente as faces.
Faltava ainda um requinte: era preciso arrancar a língua, que tanto pregara. Por isso, depois de lhe vazarem um olho, de lhe cortarem o nariz e de lhe rasgarem os lábios, abriram-lhe a garganta e arrancaram-lhe toda a língua. Em seguida, tomaram um estilete e espetaram-lho no coração. Como o martirizado corpo ainda se contorcia, comentaram: “Como dança esse polaco!” Finalmente, deram-lhe dois golpes de misericórdia.
Quarenta e cinco anos depois da morte, o seu corpo estava incorrupto, coberto com os mil ferimentos do martírio, nos quais se via ainda o sangue fresco. A carne permanecia branda e flexível. Por esse milagre estupendo, a Providência quis que que muitos detalhes do martírio desse grande defensor da fé fossem conhecidos, de tal maneira que no seu processo de beatificação ficou dito que foi ele mesmo o verdadeiro postulador da sua causa.
Santo André Bobola foi beatificado por Pio IX, mas o seu martírio post-mortem não cessara ainda. Quando os bolcheviques tomaram a Polónia, arrebataram violentamente as relíquias desse apóstolo, e levaram-nas para Moscovo. Só depois de muitas e demoradas negociações a Santa Sé conseguiu recuperar, em 2 de Novembro de 1923, as santas relíquias. Em 1938, Pio XI canonizou solenemente Santo André Bobola, que mais tarde se tornou o protector da nobre nação polaca.