Nascido no final do século xi no seio de uma família privilegiada, de grande fortuna e poder, a maior riqueza de Bernardo era, contudo, uma arraigada fé católica. Seu pai, Técelin, grande senhor, era forte, bom e piedoso; sua mãe, Elizabeth, filha do Duque de Montbar, seria venerada como bem-aventurada pela Igreja de França. Terceiro de sete filhos, quando Bernardo nasceu, sua mãe não só o ofereceu a Deus, como fazia com toda a prole, mas também o consagrou ao serviço da Igreja.
Extremamente bem dotado, além de boa aparência física, Bernardo possuía uma inteligência viva e penetrante, elegância de dicção, suavidade de carácter, natural rectidão de alma, bondade de coração, uma conversa atraente e cheia de encanto. Ao par disso, tinha uma modéstia e uma propensão para o recolhimento que o faziam parecer tímido.
No ano de 1098, num vale chamado Cister, em França, São Roberto de Molesmes fundara um ramo reformado da famosa Abadia de Cluny, já então em decadência. A severidade da sua regra foi afastando os candidatos, enquanto os monges mais antigos iam morrendo. Santo Estevão Harding, sucessor de São Roberto, pensava em fechar definitivamente as portas da abadia, quando um dia lhe apareceram 30 cavaleiros nobres, pedindo para entrar na ordem: eram Bernardo e alguns irmãos, um tio e vários amigos, que ele tinha convencido a acompanhá-lo. Mais tarde, seriam seguidos pelo irmão mais novo e o próprio pai; a única irmã também se dedicaria a Deus, morrendo em odor de santidade.
Santo Estevão Harding observava, maravilhado, aquele jovem com maturidade e prudência de ancião. E, apenas dois anos depois da sua entrada em Cister, enviou-o como superior de um grupo de monges para fundar a Abadia de Claraval. Bernardo tinha apenas 25 anos.
A nova abadia ficava num lugar inculto e agreste, sendo por isso chamado Vale do Absinto. São Bernardo chamar-lhe-ia Vale Claro, ou Claraval, espalhando a sua fama por toda a França, e depois pela Europa.
A missão pública de São Bernardo quase não teve similar na História. Por exemplo, chamado a combater o cisma do antipapa Anacleto II, percorreu a Europa, conquistando reis e reinos para a justa causa. Foi a alma dos concílios de Latrão, de Troyes e de Reims, convocados pelo Papa para tratar dos negócios da Igreja. E opôs-se ao Imperador alemão Lotário II, que, aproveitando-se do cisma, queria receber as investiduras das igrejas; Bernardo não só o fez desistir desse intento, mas também o convenceu a reconhecer o Papa verdadeiro.
Além da questão do cisma, não houve ponto importante na Igreja daquela época em que Bernardo não tivesse intervindo: foi o protector da fé contra as heresias; e foi chamado a pregar a Segunda Cruzada, coisa que fez com a força da sua eloquência e o poder dos seus milagres.
Muitíssimo mais se poderia dizer sobre este santo excepcional. Estando para morrer, vendo que os seus filhos espirituais faziam violência aos Céus para o manterem na Terra, lamentou-se docemente: “Porque desejais reter um homem tão miserável? Usai de misericórdia para comigo, peço-vos, e deixai-me ir para Deus”. Assim foi, no dia 20 de Agosto de 1153.