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17/7 – Beato Inácio de Azevedo e 39 Companheiros, Mártires

A título de excepção, não trataremos hoje de santos canonizados, mas de beatos. Trata-se de uma falange de filhos de Santo Inácio de Loyola que partiram para o Brasil no nobilíssimo intuito de evangelizar esse território, mas que foram martirizados por piratas calvinistas antes de lá chegar. Por isso foram cognominados Quarenta Mártires do Brasil, apesar de não terem aportado àquela terra.

Inácio de Azevedo de Ataíde de Abreu Malafaia, também conhecido como Inácio de Azevedo, era o primogénito de D. Manuel de Azevedo, comendador de Alpendurada, e de D. Violante Pereira. Nasceu no Porto no ano de 1527. Um dos seus irmãos, Jerónimo, será Governador e Vice-Rei da Índia entre 1612 e 1617.

Como era de nobre estirpe, Inácio foi criado na corte. Muito maduro e responsável para a sua idade, aos 18 anos seu pai confiou-lhe a administração dos bens familiares.

Aos 22 anos, Inácio resolveu fazer os Exercícios de Santo Inácio de Loyola, pregados pelo jesuíta Francisco Estrada. Após os 40 dias de retiro, decidiu entrar para a Companhia de Jesus: renunciou a todos seus bens, nomeadamente ao senhorio de Barbosa, cabeça do morgadio dos Azevedo de Ataíde Malafaia, e foi para o noviciado jesuíta em Coimbra.

Quando chegaram a Portugal cartas nas quais o Padre Manoel de Nóbrega descrevia o apostolado com os índios e pedia missionários para o Brasil, o Padre Inácio apresentou-se como voluntário. Em 1565, foi a Roma, a fim de se apresentar ao novo Superior Geral dos Jesuítas, São Francisco de Borja. Na Cidade Eterna participou da Congregação Geral de sua Ordem, ocasião em que foi nomeado Visitador para o Brasil.

O futuro beato chegou ao Brasil no dia 18 de Janeiro de 1567, desembarcando no Rio de Janeiro. Após três anos de fecundo trabalho em terras brasileiras, voltou para a Europa. Em Portugal, entrevistou-se com D. Sebastião, a quem agradeceu a proteção dada aos trabalhos da Companhia no Brasil. Em Maio de 1569, foi a Roma prestar contas de sua missão a São Francisco de Borja, e pedir novos reforços para o Brasil. Com o apoio do Papa São Pio V e de São Francisco de Borja, o beato Inácio voltou à Península Ibérica para recrutar voluntários para o trabalho na Terra de Santa Cruz. Os seus esforços foram coroados de êxito: conseguiu 72 voluntários, sacerdotes e seminaristas, entre os quais estava um sobrinho de Santa Teresa de Ávila, que ainda vivia.

Enquanto aguardavam para partir na frota do novo Governador-Geral do Brasil, D. Luís de Vasconcelos, Inácio concentrou seus religiosos na Quinta de Val de Rosal, ao sul do rio Tejo, evitando Lisboa, onde reinava a peste: já tinham morrido mais de 12.000 pessoas na capital, entre elas 20 jesuítas.

As três naus da frota do Governador do Brasil partiram para seu destino no dia 5 de Junho de 1570. O beato Inácio viajava com 39 jesuítas na nau Santiago, e os demais foram divididos entre as outras duas naus. A Santiago deveria passar pelas Canárias, e depois seguir para o Brasil, separando-se assim da frota.

No dia 15 de Julho, quando se aproximava de La Palma, a nau Santiago foi acometida por uma frota de cinco navios piratas. Eram todos calvinistas franceses, comandados por Jacques Sourie, um dos mais ferrenhos inimigos de nossa religião.

Travou-se feroz batalha, durante a qual os jesuítas animavam os portugueses, que eram minoritários, e socorriam os feridos. Finalmente, Sourie apossou-se da Santiago e, notando o grupo de jesuítas, gritou aos seus correligionários: “Matai, matai, massacrai os papistas, porque vão semear doutrinas falsas no Brasil!”

Obedecendo cegamente a essa ordem, um dos hereges atingiu com um machado a cabeça do Padre Inácio, que segurava um quadro de Nossa Senhora nas mãos. Ensanguentado, o mártir exclamou: “Atesto aos anjos e aos homens que morro na fé da Igreja Católica, Apostólica, Romana, e que morro com alegria na defesa dos seus dogmas e das suas práticas.”

Como os protestantes tentavam arrancar-lhe das mãos o quadro de Nossa Senhora, o Padre Diogo de Andrade abraçou-se a ele, e foram ambos mortos a punhaladas e lançados ao mar. Comentando o ocorrido, o Padre Pero Dias escreveria um mês mais tarde: “Não puderam as mãos sacrílegas dos hereges […] tirar das mãos de tão forte capitão aquele tão forte escudo, com que andava mais unido que com a sua mesma alma: tiraram-lhe a vida, mas não lhe arrancaram a imagem.”

Os demais jesuítas, com excepção de um, foram igualmente mortos ou simplesmente lançados ao mar. O único sobrevivente foi um irmão leigo, que os calvinistas pouparam para ser seu cozinheiro.

Estes heróis da fé foram beatificados no dia 11 de Maio de 1854, pelo Papa Pio IX.


Foto: DR

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