Dotado de uma das melhores inteligências do seu século, aplaudido em toda a Europa como Mestre, São Bruno deixou todas as glórias humanas para se encerrar no deserto da Cartuxa e viver somente para Deus.
“Grandeza de nascença, grandeza de espírito, grandeza de fortuna, graças exteriores, inteligência clara e vigorosa, incomparáveis aptidões para as ciências, presentes já magníficos que faziam brilhar o mais belo deles, a virtude: eis em que meio de esplendor se desenvolvia essa jovem alma”: é assim que um hagiógrafo descreve a infância e adolescência de São Bruno de Hartenfaust, nascido em Colónia por volta do ano de 1030 (P.e Giry, Les Petits Bollandistes).
Tendo concluído a sua formação na Universidade de Reims, é nomeado professor, adquirindo fama, sobretudo pela segurança e profundidade da sua doutrina. A corrupção da sua época entristece-o, a simonia (intenção deliberada de comprar ou vender, por um preço temporal, coisas que são espirituais ou anexas a espirituais), que então grassava nos ambientes eclesiásticos, causa-lhe indignação, a heresia horroriza-o. Quer reformar o mundo, e não ser por ele conquistado. Por isso, volta para a sua Colónia natal, onde é ordenado sacerdote, entregando-se depois à evangelização do povo pobre e ignorante dos lugares mais afastados.
Voltando a Reims, entre os seus alunos de Teologia ressaltam dois que teriam grande papel no futuro: São Hugo, futuro Bispo de Grenoble, e o bem-aventurado Urbano II, o Papa das Cruzadas.
Aos 40 anos, Bruno resolve abandonar de vez o mundo e, com alguns discípulos, tenta a vida no Mosteiro de Molesmes, sob a direcção de São Roberto. Mas, apesar do rigor desse mosteiro, sente que ainda não é a solidão absoluta que almeja. Com os seus discípulos, despede-se de São Roberto – os Santos entendem-se – e parte para Grenoble, onde o seu amigo São Hugo era Bispo.
Num sonho, São Hugo vê, num local montanhoso da sua diocese, o lugar que Deus destinava para que São Bruno fundasse o seu mosteiro da Cartuxa. Com efeito, é aí que ele se instala, com seis companheiros.
Mas o seu antigo discípulo, agora Papa Urbano II, necessita dos conselhos e das luzes de São Bruno, e chama-o a Roma. Cheio de tristeza pelo futuro incerto da sua obra, este designa Lauduíno como superior em seu lugar e parte para a Cidade Eterna.
Mas São Bruno tinha saudades da sua solidão e, com a bênção do Papa, funda uma segunda Cartuxa num vale da Calábria, onde entrega a sua alma a Deus em 6 de Outubro de 1101.