Considerado um dos santos mais representativos e queridos da Polónia, São João Câncio é designado pelo povo “Glória da Nação Polaca” e “Pai da Pátria”. Isto num país que sempre teve orgulho na sua fé no cristianismo, e na sua fidelidade à cátedra de Pedro.
João de Kety – ou Câncio, como ele mesmo se chamava, latinizando o seu nome – nasceu naquela cidade da diocese de Cracóvia, na Polónia, em 1390. Ordenado sacerdote, foi durante muitos anos professor da Universidade de Cracóvia, fundada por Vladislau III Jagelão, lituano, que se converteu ao catolicismo para se casar com a futura Santa Edviges, herdeira do trono polaco.
Câncio tinha grandes virtudes, sobretudo a piedade e a caridade, e tornou-se modelo insigne para os seus colegas e discípulos. Segundo o Papa Clemente XIII, deve ser contado entre aqueles excelentes varões que foram exímios em santidade e doutrina, que praticavam o que ensinavam, e que defenderam a verdadeira fé, impugnada pelos hereges.
Enquanto nas regiões vizinhas pululavam as heresias e os cismas, o bem-aventurado João ensinava na Universidade de Cracóvia a doutrina haurida da mais pura fonte, e explicava ao povo nos seus sermões, com muito empenho, o caminho da santidade, confirmando a pregação com o exemplo da sua humildade, castidade, misericórdia, penitência e todas as outras virtudes próprias de um santo sacerdote e de um zeloso ministro de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Desse modo, São João Câncio era um modelo e uma glória não só para os mestres e discípulos, mas para todo o povo.
Na sua qualidade de preceptor dos príncipes da Casa Real polaca, às vezes não podia subtrair-se a participar em festas mundanas. Um dia, apresentou-se num banquete com roupas humildes, e um criado mandou-o embora. João foi mudar de roupa e voltou ao local onde se dava a recepção. Desta vez pôde entrar, mas durante o almoço um servidor desastrado derramou-lhe um copo de vinho nas vestes. João sorriu e comentou: “Está certo que também a minha roupa tenha a sua parte, pois foi graças a ela que pude entrar aqui.”
Tanto nas pequenas como nas grandes adversidades, São João teve sempre em vistas algo bem superior ao prestígio, à carreira e ao bem-estar materiais: “Mais para o alto!”, repetia frequentemente querendo exprimir com este lema o seu programa de vida ascética. Distinguiu-se sobretudo pela caridade evangélica, com uma marca claramente franciscana. Se suspeitava de que ofendera alguém ao dizer a verdade, antes de se aproximar do altar pedia perdão, não tanto pelos seus erros, mas pelos alheios.
Durante uma das suas peregrinações a Roma, a diligência em que viajava foi assaltada e depredada por um grupo de bandidos que infestavam os arredores de Roma. Também João foi roubado, mas, percebendo que no fundo de um bolso tinha ficado uma moeda de prata, correu atrás dos ladrões, dizendo: “Esqueceram-se desta.” O biógrafo que conta o episódio afirma que os bandidos, comovidos, restituíram todo o dinheiro do assalto.
São João de Kety ou Câncio morreu em Cracóvia, com a idade de oitenta e três anos, na noite de Natal de 1473, e foi canonizado em 1767.