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12/8 – Santa Joana de Chantal, Viúva

No século xvi, a heresia protestante devorara, qual cancro, quase toda a Alemanha, lançando metástases pela Europa fora. Em França, penetrou tão perigosamente, que o seu poderio a tornaria em breve um Estado dentro do Estado.

Aproveitando-se da fraqueza e omissão da dinastia francesa dos Valois – dirigida efectivamente por Catarina de Médicis, uma mulher sem escrúpulos – e do apoio de membros da mais alta nobreza, seduzidos pela nova heresia, esta ameaçava a própria existência da única religião verdadeira, a católica.

Diante do perigo, os católicos, liderados pela família dos Duques de Guise, formaram uma Liga Santa para a defesa da sua religião. Dissolvida por Henrique III, a referida Liga renasceu em 1587, quando o Tratado de Beaulieu favoreceu demasiadamente os huguenotes, o nome que os protestantes recebiam em França.

Fazia parte da Liga o enérgico e ardente católico Benigno Fremyot, Presidente do Parlamento da Borgonha, casado com Margarida de Berbisey. Foi nesse ambiente carregado das guerras de religião que nasceu Joana, a segunda filha deste casal.

Não há dúvida de que o amor materno é insubstituível na formação moral e religiosa da prole. No entanto, o caso do Presidente Fremyot foi uma das notáveis e raras excepções. Joana tinha apenas 18 meses quando sua mãe faleceu, no parto do terceiro filho, André; Benigno Fremyot supriu a falta da esposa dando aos filhos uma educação ao mesmo tempo afectuosa e viril. Dos três que teve, a primeira faleceria piedosamente poucos anos depois de casada; a segunda seria elevada à honra dos altares; e o último tornar-se-ia, aos 21 anos, pela sua virtude e as suas qualidades morais, Arcebispo de Bourges e amicíssimo de São Francisco de Sales. Fremyot reunia-os de manhã e à noite para os ensinar a rezar, a conhecer e a amar a verdadeira Igreja e o Papa.

Quando os filhos foram crescendo, Fremyot contratou mestres escolhidos para reforçarem a sua formação. Joana aprendia com grande facilidade e viveza de imaginação. E, dado o seu talento e a posição que ocupava no mundo, ensinaram-lhe tudo o que uma jovem da sua classe devia saber: ler, escrever, dançar, tocar instrumentos de música, cantar e cuidar da casa.

Aos 20 anos, Joana Francisca foi dada pelo pai em casamento ao Barão de Chantal, valoroso oficial do exército francês. Embora fosse católico, desde a morte da mãe o Barão levava uma vida um tanto dissipada. O primeiro cuidado de Joana foi, pois, conquistar o coração do marido para o levar para Deus; não foi difícil, pois o Barão, além das boas disposições que possuía, percebeu logo que Deus lhe tinha dado por esposa uma santa. A união entre os dois foi tão grande, que se dizia que tinham um só coração. Ao mesmo tempo, a Baronesa restabeleceu, com bondade mas firmeza, a ordem e a disciplina no seio da numerosa criadagem do castelo.

O casal foi abençoado com seis filhos. Os dois primeiros faleceram à nascença; sucederam-lhes outro filho e três filhas, tendo a última nascido poucas semanas antes da morte do Barão, mortalmente ferido pelo seu melhor amigo num acidente de caça. Chantal recebeu os últimos sacramentos, perdoou a quem o atingira e recomendou à mulher que se resignasse à vontade de Deus.

Joana ficou, pois, viúva aos 28 anos, com 4 filhos para educar e o baronato a seu cargo. Foram-lhe necessárias fé e energia para aceitar o rude golpe. Mas recebeu muitas graças nessa época, o que a levou a afirmar mais tarde que, se os filhos não fossem tão pequenos, teria abandonado tudo para terminar os seus dias em Jerusalém, consagrada inteiramente a Deus.

Em 1604, o já merecidamente célebre Bispo de Genebra, São Francisco de Sales, foi pregar a Quaresma em Dijon, cidade-natal de Joana, e esta mudou-se para casa de seu pai, a fim de seguir os sermões. O grande pregador, a quem Deus mostrara em sonhos a futura penitente, reconheceu-a imediatamente, atenta e recolhida, no meio aos fiéis; ela também reconheceu com emoção aquele que Deus designara para seu pai espiritual, e teve início um dos mais belos parentescos espirituais da história da Igreja, que tantos e tão belos frutos produziria. São Francisco de Sales traçou-lhe uma minuciosa regra de vida. Sob a sua direcção, Santa Joana de Chantal progrediu tão rapidamente, que o santo se admirava, dando graças a Deus.

Aos poucos, maturava na mente do Bispo de Genebra o projecto de uma nova congregação religiosa, com regras adaptadas a virgens e viúvas que, desejando servir a Deus, não se sentiam atraídas pelas grandes austeridades das famílias religiosas já existentes: teriam como oração em comum somente o Ofício Parvo de Nossa Senhora, e deveriam dedicar-se à assistência dos pobres e enfermos. Joana colocou-se à disposição dele para realizar essa obra assim que os filhos estivessem encaminhados.

Ocorreu então que, para unir a sua família à da Baronesa com laços mais fortes que os da amizade, a Senhora de Boissy, mãe de São Francisco de Sales, propôs o casamento de seu filho, o Barão de Thorens, de 14 anos, com Maria Amada, a filha mais velha de Santa Joana, então com 12. O casamento foi oficiado por São Francisco de Sales e, como era costume na época, a jovem esposa foi viver com a família do marido até atingir a idade núbil.

Santa Joana confiou seu filho Celso Benigno ao avô, o Presidente Fremyot, que, com a ajuda de um virtuoso preceptor, completaria a educação do adolescente. Celso Benigno morreria heroicamente aos 31 anos, lutando contra os protestantes na ilha de Rhé; a mulher seguiu-o pouco tempo depois, deixando uma filha de um ano, que viria ser a famosa epistológrafa Madame de Sevigné.

Levando as duas filhas mais novas para convento, para aí concluirem a sua formação, a Baronesa de Chantal ficou livre para realizar a grande obra. Antes de partir, renunciou a todos seus bens em favor dos filhos, e embarcou para Annecy, que fazia parte do Ducado da Sabóia. Pouco depois, Deus chamou a Si a filha mais nova, aquela a quem Joana mais amava, pela sua inocência e docilidade.

A Congregação idealizada pelo Bispo de Genebra era uma inovação, pois até então só havia conventos de clausura. Na recém-fundada Congregação – denominada da Visitação –, as religiosas não guardariam clausura, pois deveriam cuidar dos pobres, o que suscitou muitas controvérsias.

Apesar da pobreza e das críticas recebidas, novas postulantes foram ingressando na congregação. O Cardeal Arcebispo local interveio e convenceu São Francisco de Sales a erigir e transformar a congregação numa ordem religiosa e a aceitar a obrigação da clausura perpétua. Uma vez aceite a proposta, o Fundador estipulou, contudo, que nos seus conventos se pudessem receber senhoras e meninas que quisessem recolher-se temporariamente para pôr em ordem a sua consciência.

Após a morte de São Francisco de Sales, Santa Joana não só consolidou a obra nascente, como a expandiu. Durante a sua vida, os mosteiros da Visitação elevaram-se a 65; Joana visitou-os a todos, satisfazendo um desejo de muitas das suas filhas espirituais: conhecê-la pessoalmente.

Em 1641, a Rainha Ana de Áustria convidou-a para ir a Paris, onde a cumulou de honras e distinções. Era a exaltação que a realeza prestava à santa que em vida foi comparada à mulher forte do Antigo Testamento.

Meses depois, Joana foi receber no Céu a grande recompensa que Deus reserva a seus eleitos: Santa Joana de Chantal entregou a alma a Deus em Moulins, no dia 13 de Dezembro de 1641. Foi beatificada por Bento XIV em 13 de Novembro de 1751 e canonizada por Clemente XIII em 16 de Julho de 1767.


Foto: Michael Fuchs, Foto: Osfs [Public domain]

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