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11/8 – Santa Clara de Assis, Virgem

É na graciosa colina do formoso vale do Espoleto que fica a cidade de Assis. Com as suas construções de granito cor de rosa, ela encanta o visitante à primeira vista; e mais encantado fica ele ao tomar contacto com os inúmeros vestígios dos dois grandes santos que são a glória da cidade: São Francisco e Santa Clara.

Ao contrário do Poverello, que era de uma família de comerciantes, Clara era filha de Favorini Scifi, Conde de Sasso-Rosso, abastado representante de uma antiga família romana. Sua mãe, a beata Ortolana, pertencia à nobre e também antiga família dos Fiumi.

Com uma mãe muito piedosa, Clara sentiu-se desde cedo inclinada para a virtude: era doce, modesta, serena, muito dócil, verídica nas palavras e obediente. Teve a educação que recebia uma menina rica da época, com conhecimentos elementares de leitura e escrita, trabalhos de costura, nos quais sobressaíu, e gestão da casa.

Quando Clara tinha 11 anos, um facto deu o que falar em toda a Assis: o jovem Francisco Bernardone abandonara a casa e o ofício do pai para se entregar inteiramente a Deus. Clara acompanhou com admiração todo o processo desse drama familiar e a partir de então, uma vez por outra, ouvia falar desse amante da pobreza que arrastava atrás de si pobres e ricos, letrados e ignorantes, todos desejosos de o seguir ao serviço da Dama Pobreza.

Aos 18 anos, como Clara era uma jovem dotada de todos os atributos que uma moça pode desejar – beleza, riqueza e habilidade –, os pais procuraram casá-la com alguém que estivesse à altura do nome da família. Mas ela recusou todos os partidos, afirmando que não teria outro esposo que Nosso Senhor Jesus Cristo.

Na quaresma de 1212, Clara ouviu Francisco pregar na igreja de São Jorge. Cativada pelas suas palavras, foi ter com este Arauto do Grande Rei, como lhe chamavam, e expôs-lhe o desejo de também se entregar a Deus. Francisco interessou-se muito pelo caso de Clara porque, como diz um velho cronista, “desejava arrancar esta nobre presa às garras do mundo perverso e depositá-la, como glorioso troféu, diante do altar de Deus”. Confirmou-a na vocação e ambos ficaram a aguardar uma ocasião propícia para darem o passo seguinte.

Na noite do Domingo de Ramos, Clara saiu secretamente de sua casa e dirigiu-se à igreja da Porciúncula, onde tinha à sua espera Francisco e os seus monges com círios acesos. O Poverello cortou-lhe os belos cabelos e deu-lhe uma túnica grosseira e um véu preto, para simbolizar a renúncia ao mundo. Depois, conduziu-a ao mosteiro beneditino de São Paulo, onde Clara ficaria alojada até se conseguir um lugar definitivo.

Depois de muito lutar, os pais tiveram de aceitar o facto consumado da entrega da filha a Deus. E voltaram à luta quando a outra filha, Inês, de 15 anos, quis partilhar da vocação da irmã: tendo “perdido” já uma filha, o pai não quis perder a segunda, e mandou o irmão, acompanhado de 12 cavaleiros, ao encalço da fugitiva, com ordens para a trazer à força, se preciso fosse. Quando, porém, começou a ser arrastada para fora do convento, Inês tornou-se tão pesada, que nem os 12 homens conseguiam movê-la. Furioso, o tio tirou desembainhou a espada para a atingir, mas nesse momento ficou com o braço inerte. O bando acabou por abandonar a presa e, pouco depois, São Francisco cortava os cabelos a Inês, que se tornava assim a segunda pedra do edifício das Damas Pobres.

O bispo colocou então à disposição de Francisco a ermida de São Damião, cuja igreja o próprio Poverello havia restaurado, para que fosse o berço da Ordem Segunda de São Francisco, isto é, das Clarissas.

Durante os 40 anos em que foi abadessa, Santa Clara perfumou aquele local com as suas orações, penitências e milagres. Aos poucos, outras jovens e senhoras se juntariam às duas irmãs, para viverem uma vida de renúncia e pobreza.

Quando, em 1234, as tropas sarracenas ao serviço do ímpio Imperador Frederico II devastaram os Estados pontifícios, cercaram Assis, chegando às portas do convento das Clarissas. Tudo era de temer da parte de um grupo de mulheres indefesas, atacadas por bárbaros sem pudor nem religião. Foi então que Clara pegou na custódia com o Santíssimo Sacramento e avançou em direcção à soldadesca, que já começava a entrar no claustro; os soldados foram tomados de pânico e fugiram precipitadamente. Pouco depois, levantavam também o cerco de Assis.

Assistida pelo Papa Inocêncio IV, que lhe ministrou os últimos sacramentos e lhe concedeu indulgência plenária, Santa Clara faleceu santamente no dia 11 de Agosto de 1253. Tal era sua fama de santidade, que foi canonizada apenas dois anos após a sua morte.


Foto: Simone Martini [Public domain]

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