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1/6 – São Justino, Mártir

Entre os Padres da Igreja do século ii, São Justino é o mais conhecido, por causa dos documentos autênticos que temos dele. Nas suas duas Apologias e no seu Diálogo, dá muitos detalhes sobre a sua vida pessoal, um pouco idealizados e mesclados com poesia.

Por eles sabemos que Justino nasceu no início do século ii em Flávia Neápolis, na Samaria, que era filho de Prisco e provavelmente de família de origem latina, mas pagã, como a maioria dos seus contemporâneos.

Como afirma no começo do seu Diálogo com Trifão, Justino recebeu boa educação em filosofia. Estudou depois com os estóicos*, mas constatou que deles não tinha até então aprendido nada sobre Deus, e que o seu mestre nada tinha a dizer-lhe nessa matéria. Procurou depois um seguidor de Aristóteles, mas como este estipulou um preço a pagar, Justino afastou-se dele. Um seguidor de Pitágoras recusou-se a instruí-lo enquanto ele não soubesse música, astronomia e geometria. Finalmente, encontrou um filósofo platónico, que satisfez os seus anseios. O futuro santo estava encantado com essa filosofia quando, andando um dia à beira-mar, encontrou um misterioso ancião. Começaram a conversar e, depois de longa discussão, Justino chegou à conclusão de que a alma não poderia chegar à ideia de Deus por mero conhecimento humano, mas necessitava de ser instruída pelos profetas, que, inspirados pelo Espírito Santo, haviam conhecido a Deus e podiam torná-l’O conhecido. É o que conta numa das suas obras.

Isto foi um princípio. Houve, porém, um facto mais decisivo para a sua conversão. Declara ele em Apologias: “Quando eu era um discípulo de Platão, ouvindo as acusações feitas contra os cristãos, e vendo-os intrépidos em face da morte e de tudo o que o homem pode temer, disse a mim mesmo que era impossível que eles vivessem no erro e no amor aos prazeres.” Movido então pela beleza dessa religião, a qual tornava os homens tão insensíveis aos prazeres terrenos, converteu-se ao cristianismo por volta do ano de 130.

O santo consagrou a sua nova vida a escrever e a ensinar. Sem ser sacerdote, Justino tornou-se historicamente o primeiro dos Padres da Igreja que sucederam aos Padres apostólicos. Deixou à Igreja livros preciosíssimos, que constituem um tesouro inigualável dos tempos apostólicos e são monumentos indestrutíveis da doutrina imutável da Igreja.

Aos filósofos, que tinham os cristãos por ignorantes, Justino mostrou que sabia tanto quanto eles, e convidou-os a ultrapassarem os seus sistemas e abraçarem o Evangelho. Os seus escritos sobre as crenças e os usos dos cristãos, a celebração da Sagrada Eucaristia e do Baptismo, bem como sobre outros detalhes da vida da Igreja na sua época contêm informações que praticamente só estão disponíveis nessa fonte.

O Martirológio Romano diz a seu respeito: “Em Roma, paixão de São Justino, filósofo e mártir, na perseguição de Marco Antonino Vero e Lúcio Aurélio Cómodo. Apresentou aos ditos imperadores uma segunda apologia em defesa da nossa religião, e sustentou-a também em vigorosas disputas. Foi insidiosamente acusado como cristão por Crescêncio, filósofo cínico, a quem exprobara a depravação de vida e costumes. Em recompensa pela sua língua fiel, recebeu a graça do martírio.”


* Movimento filosófico fundado por Zenão na Grécia Antiga, que preza a fidelidade ao conhecimento, desprezando todo o tipo de sentimentos externos, como a paixão, a luxúria e demais emoções.


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